quinta-feira, 28 de junho de 2012

Meditacao...

Em plena Ditadura Constitucional

Por Marcos Coimbra

No antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, sob a direção do seu então chefe Luiz Gushiken, um dos cenários prospectivos traçados partia da premissa de que Lula seria o presidente da República em 2022, ano de comemoração do bicentenário da independência do Brasil. Ora, isto só seria possível de acontecer nas seguintes hipóteses. Na primeira, Lula conseguiria obter, via plebiscitária, o direito de concorrer “ad eternum” à presidência, a exemplo do já conseguido por Hugo Chávez e outros, sendo reeleito continuamente. Na segunda, caso não conseguisse seu intento, elegeria um títere em 2010, o que foi feito, retornando ao poder em 2014, sendo reeleito em 2018 e permanecendo no poder até 2022.

Desta forma, o PT permaneceria no poder para sempre, pois, após oito anos de administração lulista, é evidente o quase completo domínio de todas as fontes geradoras de poder por ele. Se não, vejamos. Mais da metade dos componentes das mais altas cortes de Justiça do Brasil foi nomeada por Lula. O Legislativo é inteiramente submisso aos seus caprichos. Inexiste uma oposição digna deste qualificativo. Os sindicatos foram cooptados. Até as lideranças estudantis foram anuladas.

A mídia, com raras exceções, depende das verbas de publicidade da União e das estatais. Quem diverge e verbaliza sua crítica é silenciado. A exposição positiva de Lula é digna de um plano de Goebbels. Aparecia todos os dias em praticamente todos os principais veículos de comunicação, em especial na televisão, mais vista pelas classes D e E, segmentos mais importantes em uma eleição. Lula é o pai dos pobres e a mãe dos ricos, aliança imbatível.

Imagine o leitor mais doze anos de exercício na administração federal. Estaria consolidada, de maneira irreversível, uma ditadura constitucional brasileira, sem perspectiva de reversão. E o quadro de 2014 é assustador. Qualquer um dos principais candidatos em potencial até agora citados representa a continuação da mesma política de submissão aos interesses da banca internacional. As recentes ações de Lula foram claras. Ele quer voltar a ser o primeiro mandatário brasileiro. Dilma é apenas um instrumento para ele.

Caso, por absurdo, algum outro político seja eleito, em uma hipótese bastante improvável, não teria poder suficiente para mudar muita coisa na Economia do Brasil. Seria alvo de uma oposição implacável por parte dos petistas, dos chamados movimentos sociais e de outros segmentos hostis, que na prática inviabilizariam qualquer projeto diferente do adotado por Lula, em continuação ao realizado por FHC, no tocante aos aspectos econômico-financeiros.

A saída estaria no surgimento de uma nova candidatura, capaz de representar uma opção nacionalista no quadro existente. Porém, para ter chance de sucesso, deveria ser apresentada pelo maior partido político do Brasil, o PMDB, em virtude de sua capilaridade, do tempo no horário gratuito e da possibilidade de obtenção dos R$ 400 milhões necessários, no mínimo, para bancar uma candidatura viável à Presidência. Ocorre que este partido não pensa no poder como meio para consecução dos Objetivos Nacionais, mas como um fim em si mesmo, para usufruto das suas benesses.

Agora, mais do que nunca, devemos realçar a importância da defesa daquilo que ainda é nosso. De nossa cultura, de nossos valores, de nossos ideais, de nossas crenças, de nossos princípios, de nossas riquezas legadas por nossos maiores. Não podemos e não devemos envergonhar nossos antepassados. Vamos esquecer eventuais divergências, colocar para longe efêmeras vaidades e lutar para que o nosso país continue íntegro. Unirmo-nos enquanto é tempo, pois mais importante do que a arma utilizada pelo guerreiro é aquilo que ele sente no seu coração e o que pensa com sua mente.

A solução para nossos problemas passa pela recuperação da auto-estima nacional, pela volta dos sonhos legítimos de sermos uma grande potência, com nossos irmãos tendo direito a uma vida digna. Não queremos nada que não seja nosso. Exigimos apenas aquilo que já é nosso por gerações.

Nossos recursos naturais abundantes, a capacidade de trabalho do povo brasileiro, a habilidade de empreender característica de nossos empresários, a base econômica instalada, a tecnologia gerada por nossa criativa gente assustam as potências mundiais atuais. Por isto, eles não querem permitir nosso desenvolvimento. Tudo é utilizado pelo Sistema Financeiro Internacional, pela Trilateral, pelos detentores do poder econômico, para, inclusive, ridicularizar nossa fé. Militarmente, impedem que sequer tenhamos condições de defesa do nosso patrimônio. As Forças Armadas transformaram-se em Forças Desarmadas.

Economicamente, submetem a Nação às regras do Sistema Financeiro Internacional, por intermédio de seus agentes externos (FMI, Banco Mundial, BID, OMC, Diálogo Interamericano, cujo ideário foi operacionalizado no denominado Consenso de Washington) e internos (autoridades em postos de relevância formados no exterior com empregos garantidos quando saírem do governo). Tentam eliminar a capacidade de crescimento econômico e posterior desenvolvimento não só econômico como nacional, por meio da desnacionalização da nossa economia ou de sua eliminação (em especial, o segmento industrial), da subtração de nossas riquezas (através do contrabando ou da compra a preços vis) e, principalmente, empregando a privatização selvagem.

Será que isto não é o bastante para despertar a indignação do povo e motivar o início de uma campanha de âmbito nacional para evitar a perda de nosso patrimônio? Infelizmente, o país já perdeu muito de seu patrimônio e é chegada a hora de lutar para resgatar o que foi perdido. Vamos lutar, ombro a ombro, para preservar o futuro de nossos descendentes. Afinal, eles não nos perdoarão, caso não saibamos cumprir nosso dever.

http://www.alertatotal.net/2012/06/em-plena-ditadura-constitucional.html

domingo, 24 de junho de 2012

Vixe!!! o que a foto anterior...faz

Neocoronelismo urbano

Oposição de Erundina à aproximação Lula-Maluf reforça tese de que neste país o ‘novo’ nunca foi novo

23 de junho de 2012 | 16h 22

Carlos Guilherme Mota - O Estado de S. Paulo
Mal começado, o século 21 trouxe uma surpresa histórica: Lula se aliou a Maluf. O arco se fecha, e queima-se um bom candidato à condução da megacidade de São Paulo, capital financeira e cultural do País. Era só o que faltava para a caracterização completa dessa "república de coalizões" estapafúrdias, com seu futuro redesenhado nessa semana a partir da maior metrópole do País. Hoje, que significa mesmo ser republicano?
Maluf, então prefeito, vistoria obras na Av. Dr. Arnaldo, em 1969 - Arquivo AE
Arquivo AE
Maluf, então prefeito, vistoria obras na Av. Dr. Arnaldo, em 1969
Encerra-se um ciclo histórico, deixando para trás as esperanças de efetiva e sólida renovação político-social por conta do líder operário que nos anos 1970 pusera paletó e gravata para encontrar-se, a pedido, com o chanceler alemão Helmut Schmidt no hotel Hilton, centro de São Paulo, e explicar-lhe a nova era e o novo sindicalismo, o que impactou o sistema civil-militar de então. O mesmo bravo líder que enfrentou a ditadura a partir da "república do ABC"; o paciencioso torneiro que disputou – até ganhar! – eleições presidenciais contra forças de herdeiros da ditadura, da mídia e do capital financeiro e, vencedor, encarnou a vanguarda das lutas sociais na América Latina; esse líder não conseguiu fugir ao modelo autocrático-burguês. Pena.
Qual a lógica da política na terra bandeirante? Será possível fazer-se uma análise crítica das forças políticas que comandam a cidade desde, digamos, os tempos da ditadura e dos prefeitos biônicos até hoje? De que maneira os grupos econômico-financeiros, empreiteiras e respectivas forças políticas se revezaram na briga pelo poder? E o que tudo isso tem a ver com o modelo caótico de cidade que temos hoje? Não parece haver dúvidas sobre a importância da disputa municipal deste ano nas futuras eleições presidencial e estadual, sobretudo quando se recorda que o PT, como o antigo PTB e o atual PDT, sempre tiveram dificuldades eleitorais neste Estado e nesta anticidade. Desafio para todos, inclusive para a presidente Dilma, que vai melhorando em sua caminhada, sobretudo quando guarda alguma distância dessa sombra que não quer calar.
A galeria dos ex-prefeitos paulistanos ostenta de tudo, em termos humanos e de interesses do capital. Nossa urbe, marcada pela preocupação com o bem comum (o "ben comun", como se lê nas Atas da Câmara já no século 16) e os interesses da coletividade, teve fortes lideranças, desde o Morgado de Mateus (1765–1775) até o verdadeiro estadista que foi Prestes Maia, já no século 20, estudado pelos eruditos Benedicto Lima de Toledo e Candido Malta Campos, este em sua obra fundamental Rumos da Cidade. Ao revisitarmos a galeria dos ex-prefeitos, sem preocupação de arrolamento, nota-se que alguns são destacáveis (Faria Lima, Olavo Setúbal, Mário Covas, Luiza Erundina, Marta Suplicy, José Serra), outros "esquecíveis" (Jânio Quadros, Adhemar de Barros, Celso Pitta, Paulo Maluf). Mas convidemos o (e)leitor a avaliar o que cada um/uma representou ou ainda representa.
Na atualidade política, dizem os incautos ou muito espertos que direita e esquerda são definições que já não têm sentido. Carentes de leitura de livros, revistas e do mundo contemporâneo, lhes bastaria constatar as diferenças na França entre os projetos de um François Hollande e uma Marine Le Pen, ou no Brasil, entre os de Covas e Pitta, ou entre os de Maluf e (digamos) Lula.
O problema é que, de tempos em tempos, a capital paulista gera quasímodos políticos como Paulo Salim Maluf, um dos pilares da ditadura de 1964. O ex-governador, ex-candidato à Presidência da República e ex-prefeito de São Paulo (as ossadas de Perus não permitem esquecê-lo), nessa aproximação com o ex-presidente Lula com vistas à eleição municipal para escolha do novo prefeito da maior cidade da América Latina, obriga o cidadão minimamente ético e atento à História e a nossa vida política e social a se perguntar se não estamos vivendo mais uma ficção de mau gosto. Nesta agora cidade-pânico, penso no cidadão ativo que se recusa a ser alvo daquela frase ácida de Raymundo Faoro, quando dizia que "o Brasil é um país de otários", uma sentença dura do girondino radical, mas que se atualiza cada manhã ao tomarmos conhecimento do noticiário nacional, ou tentarmos entrar em um metrô (digamos, a Linha Vermelha, de Itaquera à Barra Funda), ou simplesmente atravessar a rua na faixa de pedestres. O problema é que o girondino gaúcho não logrou ensinar a radicalidade responsável ao seu amigo pernambucano, que deveria ser adotada como estratégia e referência em face dos "donos do poder". Ou seja, do patronato político brasileiro, incluídos os últimos lamentáveis ministros das Cidades, no ministério hoje nas mãos do PP de Maluf. Pobres cidades brasileiras…
Neste país de amnésicos, vale recordar o velho Marx, pois do PT, um partido de esquerda, poderíamos esperar tudo, menos a aliança Lula-Maluf. Marx dizia que, ao longo da história há fenômenos que podem se repetir: na primeira vez, ocorrem como tragédia; na segunda, como farsa. Historicamente, na prática, Paulo Maluf contradiz Marx, pois a primeira vez que ocupou posto público foi farsa, a segunda também, a terceira idem, e assim sucessivamente, até essa semana de sucesso… Mas Marx nunca foi bem lido por eles, ou talvez nem sequer lido, e muito menos pensado, sobretudo em suas páginas incômodas sobre os lumpesinatos – de onde provêm a massa dos eleitores de Maluf – que, despidos de ideologia ou filosofia, topam qualquer parada e constituem um freio para o avanço da História.
Como explicar o que aconteceu essa semana em São Paulo, senão pela confluência, para fins eleiçoeiros, de duas lideranças populistas para puxar as massas de seus respectivos eleitores? De uma parte, as gentes de Maluf, liderança que mobiliza moradores da periferia – muito menos do que se imagina, talvez Marta mobilizasse mais –, mas também segmentos da pequena burguesia, o curral decrescente e disperso de desavisados, "despossuídos" e politicamente deseducados. E, de outra parte, os eleitores de Lula e do PT, que, apesar das crescentes defecções, compõem o contingente daqueles que creem que seu carismático líder, historicamente importante, ainda representaria a possibilidade de superação, via reforma, do capitalismo selvagem e da redenção dos trabalhadores. Ou seja, da fração da classe operária que subiu ao paraíso, como espera subir a fração mais abaixo, que aguarda sua vez (e a inadimplência) na antessala das agências de automóveis.
Enfim, uma obra de antiarte política, o encontro Maluf-Lula, que nem a burguesia mais esclarecida e empenhada poderia imaginar, muito menos arquitetar um símile competidor em suas hostes. O resultado, convenhamos, é a massificação bruta de nosso capitalismo periférico, em que tudo vale nada. E que acelera o processo de deseducação cívica e política dos jovens, o desencanto dos maduros e a descrença dos democratas nos valores do socialismo reformista. Nesse processo, desceram pelo ralo o contrato social, as lutas de classes ("apagadas" justamente no período dos governos Lula), da cidadania pura e dura, das visões progressistas de mundo e de política. Enfim, dos valores humanistas. Recorde-se que Chico de Oliveira, um dos ex-fundadores do PT, já concluíra em 2006 que "o papel transformador do PT se esgotou" (Folha de S. Paulo, 24-7-2006, p. A-12). Naquele mesmo ano, o conservador liberal Claudio Lembo sentenciava: "Lula não tem tendência a ditador. É um operário do chão de fábrica. Conhece a vida de verdade. É um pequeno burguês, apenas isso" (Folha de S. Paulo, 31-12-2006). Após o levante do PCC em 15 de maio daquele ano, em que a sociedade civil paulistana se acoelhou, a "paz" voltava a reinar na capital do capital no Brasil…
A recusa da ex-prefeita Luiza Erundina em participar dessa aproximação com Maluf vem reforçar a tese de que, neste país velho e periférico, o "novo" não é novo, e nunca foi. Rapidamente, o supostamente novo ficou velho, correndo de costas em direção ao passado, como se vê na foto histórica, com o candidato Fernando Haddad sem graça entre dois Poderosos Chefões, foto antes inimaginável. A combativa ex-prefeita Erundina, com sua recusa em participar do jogo, demonstra que o pragmatismo rasteiro não pode passar por cima de valores éticos, na política como na vida. Convidado em seguida para o posto, Pedro Dallari optou por trilhar o mesmo caminho da ex-prefeita.
O fato é que a socialista paraibano-paulistana criou um forte lema para a nova sociedade civil brasileira: "Não aceito". E pôs em alerta seu próprio partido, que vem crescendo e conquistando papel importante no cenário nacional. Que ele só terá a ganhar com tal recusa, o tempo dirá. As lideranças burguesas nacionais e as dos trabalhadores, sobretudo aquelas pessoas cidadãs preocupadas com o ethos, a transparência e o mores positivo em política e na formação de um Brasil democrático, republicano e moderno, têm agora uma possibilidade de interlocução com gente de respeito. Quanto ao PT, terá que rever o lugar da ex-prefeita Marta Suplicy no quadro local e nacional; e o PSB de Eduardo Campos, de reavaliar o valor da ex-prefeita Luiza Erundina. Do mesmo modo, os outros partidos, sobretudo o PMDB, que não podem continuar a ter esse papel de vala comum dos descorados camaleões.
Na metrópole paulistana, testemunha-se nos dias atuais o fim da História. Mais precisamente, de uma certa e bela História, que alimentou as expectativas e siderou corações e mentes (lembram-se dessa expressão?) de três ou quatro gerações. Não se trata, está claro, do fim da História de Francis Fukuyama, ideólogo de sucesso e garoto-propaganda de um capitalismo predatório "avançado" e desistoricizante. Ou seja, daquela forma de organização econômico-social que só poderia dar no que deu, mas que gerou a reação social e político-ideológica positiva que resultou na eleição de Barack Obama – uma liderança bem formada política, cultural e ideologicamente. No Brasil, o momento é de desilusão das gerações, mas como a História continua, há que se buscar sinais de novos tempos, de uma nova era.
Como analisar tantas expectativas hoje frustradas? Neste país de tradição colonial, talvez a ascensão de Lula e o crescimento do lulismo possam ser entendidos por conta do velho gosto aristocrático pelo popular, cultivado até por frações da alta burguesia e de classes médias ascendentes, um "apreço" genérico por operários, sobretudo se qualificados e bem pagos. Operários que não tivessem seus macacões sujos de graxa, que fossem conversáveis (e conversíveis) como Lech Walesa, o polonês do Solidariedade. Tal "apreço’ lembra os abraços que o grande abolicionista e aristocrático Joaquim Nabuco dava nos militantes negros, eventualmente convidados a subir em seu palanque, mantendo, porém, ligeira distância.
"Tudo que é sólido se desmancha no ar", sabemos hoje. E os carismas e populismos, como o de Jânio Quadros, também se desfizeram com o tempo, por inconsistência. Hoje, ouvem-se os aplausos de plateias que, deseducadas e mal formadas, eventualmente também são atraídas pela musicalidade da "canção nova" e pela singeleza ideológico-teológica de padres-cantores e pregadores espertos. Amanhã, quem sabe isso mude.
Nesta terra de carismas fáceis e "miséria farta" (como diria Anísio Teixeira), em que a modernidade vem sendo adiada com método, "conciliação" e rigor, talvez estejam sendo geradas, em algum canto, novas visões de mundo, lideranças e mensagens menos simplistas e grosseiras sobre o que vem a ser política, sociedade, cultura. Pois a História continua…


http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,neocoronelismo-urbano,890582,0.htm

terça-feira, 5 de junho de 2012

100 Cura

Revista que ataca PT por caso Celso Daniel é apreendida em SP

Revista traz em sua matéria de capa caso Celso Daniel e associa petistas a esquema de corrupção. Foto: Reprodução Revista traz em sua matéria de capa caso Celso Daniel e associa petistas a esquema de corrupção


A publicação desta semana da revista Free,que traz em sua matéria de capa uma reportagem sobre um suposto esquema de corrupção comandado pelo PT, que teria relação com o assassinato do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, teve vários exemplares apreendidos nesta quinta-feira, em Mauá.
Devido ao fato, os diretores da publicação registraram um boletim de ocorrência - divulgado no Facebook da publicação - no 1o. distrito de Mauá pelos diretores da Revista Free SP após a constatação de abuso de poder por parte do secretário Carlos Tomaz na apreensão de revistas e de um carro da distribuição.
De acordo com a matéria apresentada na revista - distribuída gratuitamente no metrô de São Paulo e nas regiões próximas às estações -, cuja chamada de capa tem como título "Muito além da morte", a organização do esquema criminoso, que atualmente seria comandado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, teria como objetivo manter o PT no poder

http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2012/noticias/0,,OI5807023-EI19136,00-Revista+que+ataca+PT+por+caso+Celso+Daniel+e+apreendida+em+SP.html

sábado, 2 de junho de 2012

Uma visao...caolha...


Despresunção de inocência

Se Lula quis ‘melar’ o mensalão, valeria então supor que Gilmar quis ‘melar’ a defesa, avalia cientista político

02 de junho de 2012 | 15h 29

Renato Lessa
Há poucas semanas, o País, se concedido direito à metonímia, abrigou um experimento que, sem exagero, é portador de motivos para orgulho. Refiro-me à instalação em palácio da Comissão da Verdade. Ainda que seus resultados práticos sejam incertos, e pertençam antes aos domínios das mais diferentes e opostas expectativas, o evento que marcou seu lançamento abrigou ares de condensação republicana. Isso não apenas pelo cuidado de ali incluir chefes de governo que, em graus diferentes, ocuparam seus postos por força de procedimentos legítimos, mas por sugerir que o tema da verdade – de alguma verdade, ao menos – pode ter lugar na vida pública. A própria presidente, de modo eloquente e incomum na história da República, demonstrou o que podem significar a ideia e a figura de chefe de Estado.

Apesar de incertos os efeitos futuros, houve desde já um efeito imediato, qual seja o de inserir o tema da verdade em casulo distinto do de seu lugar natural. A elucidação do que ocorreu com mortos, desaparecidos e torturados, além de conferir materialidade retrospectiva à experiência do estado de exceção, amplia o conjunto de informações disponíveis a respeito da história recente do País. Mesmo que inúmeras interpretações e atribuições de sentido possam ser construídas, acena-se com a possibilidade de uma "narrativa básica", tal como o fizeram os primeiros historiadores do Holocausto; o grande Raul Hilberg, antes de todos. Assim, e por um átimo, o tema da verdade insinuou-se de modo invulgar em nossas reflexões a respeito do País. Bastou, contudo, uma conversa mal-ajambrada e mal explicada no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, para que o tema fosse devolvido a seu estado habitual, o da indeterminação e do disfarce. Para dizê-lo de outro modo: os dias que sucederam à instalação da Comissão da Verdade foram, como quê, dias de certa suspensão da experiência ordinária da política; o mencionado encontro a três, e as versões desencontradas e incompatíveis entre si dali emanadas, constituiu-se, por oposição, como experiência de des-suspensão ou, se quisermos, de desabamento e de gravitação natural.
Céticos, penso, antes de descartar o tema da verdade, com a falta de hesitação típica de dogmáticos pós-modernos, têm por essa dama – a verdade – sincero respeito, além de considerável pudor. Isso a ponto de recusar inscrever o termo "verdadeiro" em qualquer predicado, atribuído a qualquer aparência. Céticos, sobretudo, não são necessariamente parvos: não saber onde está a verdade não impede a presença de uma sensibilidade para com o implausível. Juízos de plausibilidade são suficientes para que nos movamos no mundo e configuremos nossas orientações e escolhas. Há, por certo, no episódio um abismo insondável: qual dos três protagonistas "diz a verdade"? Questão grave, diante da qual muitos não hesitarão em apresentar respostas definitivas, todas movidas por inclinações afetivas e biliares. Como, então, lidar com o abismo da indeterminação da verdade, nesse caso?
Sugiro, no que segue, uma série de procedimentos aproximativos. Antes de tudo, parece ser sábio adotar algo que poderia ser designado como uma despresunção de inocência dos envolvidos. Se, do ponto de vista penal, o procedimento é inaceitável, do ponto de vista cognitivo a coisa pode ser útil: se há suporte para supor que o ex-presidente Lula quis "melar" o julgamento do mensalão, pela abordagem ao ministro Gilmar Mendes, há idêntica plausibilidade em supor que este quis "melar" a defesa, ao pôr a boca no trombone, e evitar o tratamento apropriado e institucional da suposta ofensa.
Portanto, a abordagem do ocorrido poderia iniciar pela consideração de aspectos internos e inerentes. Há no âmago do evento uma série de implausibilidades: a casualidade do encontro, a amnésia do ex-ministro Jobim, a indeterminação da fonte para a matéria-denúncia, a participação do ministro Gilmar apenas como confirmador do trabalho dos repórteres, etc.
Uma abordagem externalista poderia partir de uma premissa simples: uma conversa dessa natureza não poderia ocorrer. Isso tanto por razões de ordem, digamos, republicanas, mas sobretudo pelo déficit de confiança, ao que parece, envolvido na interação. As hipóteses são todas abjetas: se a narrativa do ministro Gilmar Mendes corresponde à verdade, algo de grande gravidade terá ocorrido; se for inverídica, algo de gravidade grande se passou.
De um ponto de vista consequencialista, ao que parece o episódio foi vencido por quem pretende garantir forte carga dramática ao julgamento prestes a ser feito, e em neutralizar juízes neófitos, supostamente gratos por suas investiduras. Não é recomendável ver na reação do ministro Gilmar nada mais do que manifestação de ultraje pessoal e institucional.
O pano de fundo disso tudo parece ser uma experiência de república na qual o direito penal vale como recurso de inteligibilidade. Diante da indeterminação da verdade, e do esforço militante de fazê-la cada vez mais inapreensível e irrelevante, o desejo infrene de prender os inimigos vale como único recurso de fixação de sentido. Ao que parece, após uma breve incursão do espírito, estômago e fígado repõem suas pretensões a sedes fisiológicas da consciência política nacional.

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,despresuncao-de-inocencia,881461,0.htm