Prefácio do Descarbonário
O título deste livro é um trocadilho
infame.
Em 1979, no último ano de exílio em Portugal, às vésperas da anistia,
terminei de escrever Os carbonários, meu livro de memórias da época do
movimento estudantil de 1968 e dos posteriores anos de chumbo. Ele foi
publicado em 1980, depois de meu regresso ao Brasil. Virou best-seller e ganhou
o Prêmio Jabuti no ano seguinte.
Quatro longas décadas depois, de maneira alguma pretendo voltar aos temas
daqueles anos, uma longínqua experiência de vida da qual, conforme defini no
prefácio da 14a edição, em 1998, “não me orgulho nem me envergonho”. Aconteceu,
pronto. Desde então me tornei ainda mais crítico de qualquer forma de violência
política, mas isso não vem ao caso aqui, até porque não há, para além do jogo
de palavras, relação entre este livro novo e aquela obra, de lá se vão quarenta
anos, cujo título metafórico comparava nós, protagonistas dos anos de chumbo,
aos não menos patéticos jovens carbonari, do século 19, revolucionários
derrotados da futura Itália inspirados pela Revolução Francesa.
Aqui a metáfora é outra. Digo que sou um descarbonário porque me dedico,
hoje, a um tipo de ação política destinada a reduzir a emissão de dióxido de
carbono (CO2 ) e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera
terrestre – ou seja, descarbonizá-la para tentar conter a progressão das
mudanças climáticas aquém de patamares apocalípticos. No final da década de
1970, tal propósito como ideal de militância política seria certamente
considerado algo digno do manicômio, a ser interpelado com a famosa
pergunta-título do contemporâneo livro do meu amigo Fernando Gabeira: O que é isso, companheiro? Ele “pirou”, comentar-se-ia nos tempos de então. Ser descarbonário
não é, portanto, o oposto de ter sido carbonário há cinquenta anos.
Simplesmente pertence a uma outra galáxia, outro universo, não sei muito bem se
paralelo ou perpendicular. Trata-se de outro animal.
O dióxido de carbono (CO2 ) é o principal gás de efeito estufa. Os
demais, para efeito de cálculo, podem ser convertidos em CO2 -equivalente.
Descarbonizar a economia do planeta é o nome do jogo planetário praticado pelos
que se empenham em não perder completamente essa batalha, já muito malparada, e
também implica se adaptar às consequências inevitáveis da mudança climática.
Mais da metade do carbono lançado na atmosfera pela queima de combustíveis
fósseis ocorreu nos últimos trinta anos, quando já havia bastante informação
sobre seus efeitos. Nesse aspecto, as más línguas sussurrariam que, afinal,
existe, sim, certa semelhança entre ter sido carbonário, nos anos setenta do
século passado, e ter me tornado descarbonário: um certo viés quixotesco.
Confesso que aprecio o personagem do caballero de la triste figurade
Miguel de Cervantes. Ganhei, há uns anos, uma estatueta do Dom Quixote, que
conservo carinhosamente no meu escritório. Houve uma época até em que me
acompanhava um Sancho Panza, o Saulo, meu motorista da Secretaria de Meio Ambiente
da Prefeitura do Rio. Eu, alto e magro; ele, baixo e barrigudo. Parecíamos
aquela dupla.
Mas, ao contrário do distinto fidalgo de Cervantes, não faço guerra aos
moinhos de vento. Na verdade, luto com afinco a favor deles na sua versão
moderna, eólica, que integram o esforço descarbonizador e substituem com
sucesso as usinas a carvão na China e em outros países. Quando comecei a
escrever este livro, chegava ao fim o ano mais quente da história, 2016,
suplantando, assim, os outros dois mais, anteriores, 2015 e 2014. Terminei-o no
segundo ano mais quente, 2019. Sete dos dez mais cálidos ocorreram na recém
finda década de 2010. O que está acontecendo com o planeta não escaparia nem a
Rocinante, a não muito sagaz montaria del
caballero. Talvez
ainda iluda o Pato Donald…
Eu havia começado a escrever este livro como uma espécie de “tudo que
você precisa saber sobre mudanças climáticas”. Seu título provisório era “O
clima que rola”, outro trocadilho infame, este pavoroso.
Não é nada fácil escrever sobre esse assunto. Desisti do simples ensaio
porque os textos – os meus, inclusive – perigam ser herméticos, até chatos, a
não ser para um grupo reduzido de leitores muito interessados. Tenho centenas
de artigos sobre o tema publicados em jornais, revistas, sites e blogs, e seu
universo de leitores ainda é restrito.
Minha história pessoal, minhas memórias dos anos oitenta para cá, os
episódios que vivi na política, minhas opiniões sobre variados campos da
atualidade, brasileira e mundial, umas tantas histórias, algumas divertidas,
começaram a atazanar minha prosa climática. Percebi que o Descarbonário,
afinal, tinha que ter também esse lado de narrativa de causos e de avaliação
crítica, passada e prospectiva. Que eu trazia um folclore político a ser
relatado. No início de 2017, quando muita coisa ainda era incerta, senti aquela
vontade irresistível de voltar a ser um contador de histórias. Foi só começar
que elas vieram.
Decidi me afastar da política eleitoral partidária em 2014, e não quis
mais me recandidatar a deputado federal. Passei a acreditar que minha melhor
contribuição poderia ser na formação de jovens líderes. Nas minhas palestras
para esses “multiplicadores” sobre temas como clima, ecologia urbana, gestão
ambiental e urbanística local, costumo sugerir: “Ao expor suas ideias, procure
sempre o caminho da narrativa, de uma pequena historinha que ilustre e
exemplifique o que você quer transmitir. Apenas o conceito, por mais
animadamente explicado que esteja, não consegue chegar afiado nas pessoas
nesses tempos tão dispersivos em que o leque de atenção, balizado pelo WhatsApp
ou pelo Instagram, é cada dia mais curto.”
Decidi contar histórias entremeadas de análises e adotar um estilo de
narrativa descontínuo, mais parecido com o de dois outros livros meus, Roleta chilena
e Corredor polonês, o que é sempre um desafo e um considerável risco literário.
Muitas coisas estavam acontecendo no Brasil e no mundo. E essas coisas mereciam
ser analisadas sob um olhar independente de ideologias, que acredito hoje ser o
meu. É um olhar de escritor, não de político. É mais livre. Não me sinto
aprisionado por conveniências, obrigado a recorrer àqueles simplismos. Em
política não há muita margem para a sinceridade, a sutileza, os matizes. Tudo
tem que ser preto no branco, maniqueísta, nós versus eles. Só que a vida e a
própria política, vistas fora de uma perspectiva instrumental, não são bem
assim. O fo da meada aqui será a experiência de vida, não a ideologia.
São muitos causos, alguns cômicos. Reconheci que nunca mais teria histórias
com tanto suspense, tão trágicas e divertidas quanto em Os carbonários, mas
ainda restam umas tantas para compartilhar. O texto climático, conceitual,
didático, do “tudo o que você precisa saber” sobre o clima, é entrelaçado com
vivências do meu próprio aprendizado descarbonário e uma análise dos
descaminhos da política internacional e da brasileira, que agora parecem um
avião em espiral descendente.
A narrativa se encerra na última semana de 2018, quando deixei nas mãos
do então presidente Temer, em fim de mandato, o documento “Mudanças climáticas:
riscos e oportunidades para o Brasil”. Eu o fiz na posição (não remunerada) de
secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Destinava-se ao
seu sucessor, Jair Bolsonaro, meu ex-colega da Câmara dos Vereadores do Rio de
Janeiro e, depois, da Câmara dos Deputados.
Narro alguns episódios de nossa relação, pessoalmente meio bizarra com
choques que eu mantinha no terreno político, sem histerias. Apesar de minha
crítica contundente e profunda ao Partido dos Trabalhadores, acabei, depois de
considerar fortemente o voto nulo, votando em Fernando Haddad no segundo turno,
depois de outro voto “útil”, a contragosto, em Ciro Gomes no primeiro.
Bolsonaro, cuja vitória eu antevia há mais de ano, representava para mim a
expressão brasileira de um fenômeno mundial de direita populista que evoca –
não sei ainda se como nova tragédia ou farsa – os anos trinta do século
passado. Consumada a eleição, considerei que, democraticamente, deveríamos
todos aceitar o resultado das urnas, que fora inequívoco. Cheguei a acreditar
que, uma vez sentado na cadeira presidencial, baixariam sobre Jair os eflúvios
da responsabilidade e que, não obstante sua visão fascista e paranoide e das
suas idiossincrasias, ele deveria se comportar como presidente de todos os
brasileiros.
Isso certamente não aconteceu. Passado um ano, sabemos que não
acontecerá. O poder nitidamente piorou a pessoa. Temos um governante
intolerante, desumano, desprovido de decoro, profundamente desinformado que
toma conhecimento das questões “de orelhada”, cercado de gente que, como ele,
acalenta sonhos golpistas para os quais não dispõe, por enquanto, de massa
crítica e tem como grandes obstáculos o Congresso (com todos os seus enormes
defeitos) e o Supremo Tribunal Federal. Também não é mais capaz de mobilizar
multidões e aqueles que as têm – os chefes pentecostais – a princípio não se
interessariam em vê-lo com todo-poderoso. Sabem que, numa ditadura, mais cedo
ou mais tarde, sobraria para eles também.
Não obstante, são preocupantes as frequentes alusões do núcleo do poder
familiar a eventuais rupturas do regime democrático; as agressões que, no
início, sofreram expoentes da alta hierarquia militar – aparente loucura, mas
com método; seu esforço em estabelecer vínculos diretos com a oficialidade
média e as polícias militares; uma relação no mínimo preocupante com o mundo
das chamadas milícias; e seu afã de armar certos segmentos da população. Seu
pior desvario se relaciona à pandemia da COVID 19, a atitude negacionista, a
reação à previsão de dezenas de milhares ou mais de vítimas com um cínico “e
daí?”. A demissão por pura ciumeira de um ministro da saúde que tentava fazer
seu trabalho.
Quando escrevo este prefácio ele ainda ostenta o apoio de 30% população, mas
perde. Outro tanto se identifica mais ou menos com a esquerda hegemonizada pelo
PT lulista, incapaz de fazer a menor autocrítica dos imensos erros que cometeu
e aferrada a uma posição que considero particularmente repugnante: o apoio à
ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela. Aliás, a quem Bolsonaro mais se
parece, cores a parte. Uma maioria relativa, uns 40%, não quer, de jeito algum,
nenhum desses dois polos. Mas a oferta política de momento não destilou uma
alternativa de centro. Poderá surgir?
Há um recuo da democracia no mundo. É algo inequívoco; não sabemos se
reversível. “Democraduras” e ditaduras vêm se espalhando e demonstrando que o
capitalismo não precisa, necessariamente, da chamada democracia liberal. No
Brasil, Bolsonaro, a princípio, enfrenta maiores dificuldades que Duterte,
Orbán, Kaczynski, Putin ou Erdogan para se impor como chefe autoritário. Esses,
excetuado o primeiro, levaram tempo para se consolidar enquanto governantes
despóticos.
“Afinal, Sirkis, nessa altura do campeonato, onde você se situa
ideologicamente?”, é uma pergunta que me fazem. Tenho realmente dificuldade em
me autorrotular. No que pesem minhas agruras com o PV – que, aliás, fundei –
sou um verde,1 e me satisfaz o conceito de “nem à esquerda, nem à direita, mas
à frente”.
Para os que considerarem isso mera frase de efeito, vou diferenciar por
esferas. Vamos lá: socialmente me considero de esquerda; acredito que a pobreza
e a concentração de renda são os maiores problemas. Economicamente, não
considero nem a economia clássica nem o neokeynesianismo puros como a “escola
correta”. Penso que tudo depende de situações, que variam e demandam
instrumentos de ambas, por vezes até simultaneamente, como mostra hoje a
experiência de Portugal. Rejeito, sim, o neoliberalismo plutocrático e o
estatismo, com gastança descontrolada e corrupção generalizada. Acredito que a
humanidade tem contas a ajustar com a financeirização da economia global, mas
que isso terá que ser tratado numa luta supranacional. Nenhum governo é capaz
de bancar essa parada sozinho.
A nova grande depressão, ainda em seus estágios preliminares, assinala o
fim do atual paradigma neoliberal, de controle obsessivo do déficit e da
financeirização globalizada. Há uma nova economia de guerra surgindo com um
papel renovado para o Estado e a caixa de ferramentas de Lord John Maynard
Keynes na busca de réplicas contemporâneas do New Deal e do Plano Marshall. São
impressões ainda preliminares.
Politicamente, acredito que a democracia precisa tanto de uma esquerda
democrática quanto de uma direita civilizada, e que a alternância entre ambas é
necessária, pois as duas servem a circunstâncias históricas dadas. O centro
pode se articular com uma ou outra dependendo da situação concreta. Os verdes
alemães, por exemplo, tinham a tradição de se aliarem à social-democracia. No
futuro, tudo indica que formarão um governo com a União Democrata-Cristã, de
Angela Merkel.
Rejeito cabalmente a esquerda autoritária, leninista ou populista, e a
direita reacionária ou fascistoide. Sou crítico das políticas identitárias em
sua atual deriva, tanto à esquerda quanto à direita. Sou adepto da geleia
geral. Isso talvez faça de mim um personagem do “centro radical”. Não digo isso
para parecer sofisticado, mas porque essa minha “moderação” comporta também
propostas drásticas, minoritárias e altamente polêmicas, como a legalização das
drogas, que discutirei mais para o final do livro.
Em matéria de segurança, sou, vejam só, mais à direita. Não tolero “dar
mole” para bandido – seja o traficante ou a política de “arreglo”, sejam os
milicianos – e critico a leniência do nosso sistema penal com relação ao crime
violento. Não acredito no mito do “bandido vítima da sociedade”. Considero um
insulto aos pobres. Esquerdistas já me acusaram de ser de direita por causa
disso. Tenho horror à desordem urbana. Se ser linha-dura em relação aos
criminosos que atormentam nosso cotidiano e ameaçam nossas famílias significa
ser de direita, que assim seja, pelo menos nesse departamento.
Enfim: ideologia, não preciso de uma para viver – parafraseando (e
contrariando) o verso do meu saudoso amigo Cazuza. Quanto a religião, não sigo
nenhuma em particular. Genética e culturalmente, sou, obviamente, judeu
ashkenazi. Intelectualmente, me assola um certo agnosticismo. Mas tenho Deus no
coração. Já rezei em sinagoga, igreja, templo, terreiro e mesquita. Diversos
caminhos levam a Ele pelo conduto do amor. Cuidar da natureza e do clima é
defender sua Criação, que se deu – percebam, ó criacionistas – na forma da
evolução natural explicada pela ciência, que, no entanto, não traz respostas a
todos mistérios.
Estive recentemente no Vaticano com um grupo de governadores da Amazônia:
brasileiros, peruanos e ambientalistas a convite de monsenhor Marcelo Sorondo,
um argentino, figuraça, que preside a Academia Pontifícia das Ciências. Os
governadores levantaram a bandeira do movimento subnacional que estamos
criando, os “Governadores pelo Clima”. A encíclica Laudato si’, do papa
Francisco, é um dos mais poderosos documentos em defesa da natureza e do clima.
Não existe, verdadeiramente, contradição insolúvel entre ciência e fé, desde
que haja uma leitura metafórica de todas as Santas Escrituras e entendamos que
nós, humanos, carecemos de entendimento do que está acima de nós. Buscamos
caminhos. Temos a capacidade de amar.
Penso, de fato, que a mudança climática é o principal problema da
humanidade; sairá de controle rumo a níveis apocalípticos se fracassarmos na
estreita janela de oportunidade que nos resta. A situação internacional é,
hoje, pior do que em 2015, quando foi assinado o altamente insuficiente Acordo
de Paris. Trump e Bolsonaro tornaram-se grandes obstáculos a um avanço urgente,
emergencial. São expoentes tristes da indiferença e do retrocesso.
Uma das piores performances do atual presidente é sua postura em relação
ao meio ambiente e à questão climática. Tivemos com todos os governos
anteriores embates ambientais em que éramos confrontados com interesses
econômicos ou estratégicos variados e poderosos que se impunham politicamente.
Isso ocorreu com Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma e
Temer. Todos tiveram falhas, mas também alguns acertos, em maior ou menor
quantidade, ao sabor de correlações de força em situações variadas. Desde o
final do governo Fernando Henrique, o Ministério do Meio Ambiente mantivera sua
integridade, com derrotas e avanços.
No caso de Bolsonaro, o componente dos interesses econômicos em jogo é
praticamente secundário em relação a outro fator: da sanha idiossincrática. Em
algum momento, por perceber que uma parte dos ambientalistas era de esquerda,
em sua sesquipedal desinformação, passou a catalogar a questão ambiental e
climática na “caixinha” do comunismo e a se identificar com todo tipo de
atividade devastadora que identifica como progresso: grilagem, garimpo ilegal,
invasão de terras indígenas, poluição. Desenvolveu uma antipatia visceral por
uma causa cujos pioneiros, ironicamente, foram ilustres militares, como o
marechal Cândido Rondon, o major Francisco Archer ou o almirante Ibsen de
Gusmão. Preferiu a inspiração de Pato Donald.
Em palavras – as quais, na boca de um presidente da República, contam
muito – e em ações, não só desmantelou trinta anos de construção ambiental da
democracia brasileira, como chega a colocar em questão, através de um projeto
de lei de seu filho senador, disposições do próprio Código Florestal original
de 1965, da época do regime militar, como a Reserva Legal. O Brasil não só
ficou extremamente “mal na fita” internacional (situação agravada por seus
bate-bocas infantis), como foi (e será) afetado na área econômica em geral e no
sacrossanto agronegócio exportador, em particular.
O Brasil desempenhava um papel muito importante nas negociações
climáticas internacionais, pois era o país que fazia a ponte entre o G77 +
China, a União Europeia e os Estados Unidos. Neste livro, critico a postura do
Itamaraty, que tendia a tratar a questão climática através das lentes da
geopolítica. Não obstante, o papel da nossa diplomacia na Rio-92, passando por
Quioto, Copenhagen e Paris, foi sempre muito relevante na articulação e no
reforço da ambição em momentos decisivos. Na Conferência do Clima mais recente,
a COP 25, em Madri, nos alinhamos aos recalcitrantes climáticos: Donald Trump,
que prevê a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, e a Austrália, de
Scott Morris, um país em chamas cujo governo insiste no negacionismo climático.
Ambos agora se juntaram aos empata-fodas mais antigos do grupo, os
chamados like minded(os que pensam parecido): a Arábia Saudita e a Venezuela,
além de outros bolivarianos. Sem esquecer o Japão e a Índia, ali atrás do
biombo. Por conta de um chanceler, o pré-iluminista Ernesto Araújo, que renega
a mudança climática como uma “conspiração marxista” (?) e apresenta como prova
insofismável o fato de fazer frio em Roma, viramos alvo da chacota
internacional.
É onde estamos ao terminar este prefácio, que é sempre – graças a Deus –
a parte mais perecível de um livro. Os carbonários teve dois; o segundo
sujeito a várias revisões. Peço a Deus que sua vida útil seja a mais breve
possível e que ele tenha que ser reescrito para introduzir Descarbonário em
conjuntura mais feliz. Não sabemos, no entanto, se o ciclo reacionário que o
mundo e o Brasil atravessam é curto ou longo. Um soluço da história ou o novo normal?
De qualquer forma, haverá sempre argumentos para brandir e causos para contar.
Insisto em ser, primordialmente, um contador de histórias.
Ambientalista,
político e escritor Alfredo Sirkis morreu aos 69 anos, em um acidente
de automóvel, no dia 10 de julho, uma semana depois de lançar um livro que
brincava com o título de suas memórias, Os carbonários.